segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Auto-imagem

Sabe esse negócio de transtorno de imagem, no qual a gente se vê de um jeito diferente da realidade? Pois é, eu tenho isso aí. Só que a meu favor.

Percebi que eu sou portadora de transtorno de imagem - e que, surpresa, ele quer é me favorecer. Nada de achar gorda, feia, molenga, berebenta, esquisita e mocoronga. Meu transtorno de imagem só me quer bem. Eu coloco um conjunto saia e blusa, acrescento tênis, colares e pulseira, puxo o cabelo de lado e, no espelho, acho que ficou superlegal. Aí alguém bate uma foto na festa ou no jantar e... bem, eu estava parecendo um espantalho, na realidade. Mas eu gostei quando vi o conjunto!

Tenho senso-crítico suficiente pra ver, depois, que fiquei bagunçada - mas é um efeito retardado. Na hora de vestir, eu acho tudo bacana. E funciona pra outros setores.

Se fosse pra anotar sem pensar, eu diria que tenho uns 67 quilos. A balança da farmácia, por outro lado, aponta sempre algo entre 73 e 74 quilos. Nem adianta tirar celular, chaves, as balas e o chocolate do bolso, dá sempre isso (por isso eu já nem tiro, apenas desconto uns trocos). Eu me sinto mesmo com 67. Algum psiquiatra precisa estudar e explicar aí esse delay de seis ou sete quilos. Vai ver que é o ego pesado.

Tenho sempre a impressão que os cabelos brancos são charmosos e que a camiseta meio antiga é charme, não falta de tempo e verba pra comprar outra. Tenho sempre a impressão de que, como dito lá em cima, bota e tênis combinam com vestido e que chapéus me caem bem (apesar de toda guru de estilo ou blogueira de moda dizer que não, chapéu algum cai bem pra qualquer humano exceto o Adoniran).

Eu respondo a quizzes e acho que acertar 8 de 10 é um PUTA score, e que minha habilidade de motorista me habilitaria pra Le Mans. Eu gosto bastante da minha comida e tendo a me achar engraçada (daí, talvez, gostar também de chapéus, como dito acima, já que chapéu é pra quem sabe rir até de si). Eu me considero boa com as palavras. E cantando. E atuando. Mesmo sendo um trabalho interno e sem ninguém mais dar aval algum sobre disso.

Tenho sérias críticas à minha pessoa, mas quase nenhuma delas tem a ver com aparência e apresentação social. Tenho certeza absoluta - até com testemunhos - de que outras pessoas discordam veementemente e acham que, vixe, eu precisava bem urgente de uma personal (stylist/ shopper/ trainer/ complete aqui com outros ajudantes). Mas eu só peço opinião alheia pra ter certeza que a minha é boa o suficiente. E que as barras dobradas da calça não achatam minha silhueta, mas sim a destacam.

Se eu acho tudo perfeito? Longe disso. O nariz é grande demais, as coxas roçam uma na outra, teria que fazer um extreme makeover semanal nas minhas sobrancelhas... Mas podendo evitar a dor, pra quê correr na direção dela? Tento com integrais, saias em formato de A (com tênis, sempre), corretivo sob os olhos. E acho que fica é bom.

Não sei se eu tenho um transtorno de imagem do Mundo Bizarro ou falta de espelho em casa. Não sei se o 'problema' é falta de vaidade ou excesso de orgulho. Só sei que eu jogo no meu time - transtornada além da conta.


quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Tomara

Aí a gente fica sempre se acreditando aquela pessoa altamente cética. Cééética, cética. Eu não acredito em fantasmas, vida após a morte, reencarnação. Eu até acredito em objetos voadores não-identificados, mas só pela incompetência da identificação, não que eles portem seres de outros planetas. Eu não acredito em duendes - e magia, pra mim, é tomar café e ver o líquido bater na cuca e acelerar o coração. Eu não acredito em bruxas ou fadas, só no poder científico da natureza mesmo. E acredito menos que tudo no sistema financeiro, em bolsa de valores e no risco-Brasil. Mas aí a gente, cééética, se escuta um dia dizendo 'ai, tomara que...'. Tomara. Tomara?!

'Tomara que o exame não aponte problema de saúde'. A rigor, se a gente for pensar, o tomara não muda a coisa: se estiver doente, o exame mostra; se não estiver doente, o exame mostra. 'Tomara' não vai mudar o resultado do exame. Ou vai?

Torcer pro time de futebol - faz diferença? Você e sua torcida entram em campo, mudam a trajetória da bola, acrescentam braçadas na água ou impulsionam os joelhos e a panturrilha? Não, na verdade. Mas os atletas sempre contam que a torcida a favor tem uma força incrível. Dá pra ser cético e gostar de esporte, então?

Torcer pela felicidade de alguém. Que diabo? A felicidade de alguém é algo tão particular que a gente pode aqui vestir sainha e agitar pom-poms no ar e ainda ser incapaz de mudar qualquer coisa na felicidade daquela pessoa amada. Mas as boas vibrações ganham os céus, batem no satélite e são capazes de atingir lá o outro, dando uma alegrada? Minha amiga que mora no exterior diz que sim, que fica mais feliz quando sabe que eu pensei nela. Dá, aliás, pra ser cética e ter amizade? Amizade não se pega, não se come... 'tomara que sejamos amigos pra sempre'. Pra sempre nem existe!

Tomara. Tomara, tomara, ai, tomara! Dizem os cientistas de uma revista médica que eu li há alguns anos (não tenho a fonte exata, você vai ter que ser menos cético e acreditar em mim apenas) que pensar positivo e desejar coisas boas, sim, tem influência no organismo. Que o corpo sabe quando a gente se anima, manda vibes legais pro cérebro, que solta lá sua magia de substâncias no sangue e evita doenças. Dizem também, os craques da medicina, que, por outro lado, bastam cinco minutos de stress reforçado pra jogar nosso sistema imunológico abaixo de zero. Então seu chefe chama na sala com cara séria, você entra em nóia, alguém espirra do seu lado... pronto, gripe causada por não ser capaz de mentalizar 'tomara que não seja demissão'. É isso?

Não sei. Só sei que ser cética me ajuda e atrapalha, mesmo sendo algo totalmente não-palpável. Eu não creio em cristais ou reza, mas eu digo muito 'tomara'. Tomara que dê certo.