quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Família vende quase tudo

Sempre correm boatos aí dando conta de que "a Flávia? Ela joga tudo fora". Eu, de pés juntos e mãos unidas, juro que não jogo quase nada fora. Eu reciclo, eu doo, eu vendo. Eu jogo nada fora - só resíduos orgânicos mesmo, mas é que ninguém me deixa fazer compostagem nessa casa.

Reciclo mesmo com um pesinho na consciência, porque na verdade eu preferia que as coisas tivessem menos embalagens, invólucros, pacotes, plásticos. O que é aquela besteira de uma cabeça de brócolis vir sentada em uma bandeja de isopor e encapado com plástico grosso?

Doo bastante coisa também porque, sei lá, é mais forte que eu. Compro uma blusa nova, uma antiga vai embora, é como é. Não me interessa que talvez possa usar de novo daqui uns seis meses, pra fazer a pintura da parede da garagem ou tingir o cabelo... Não. Já não está em uso semanal, passar bem. Armários pequenos e pouca paciência com acúmulo me fazem remeter mensalmente boas sacolinhas de roupas, sapatos e artigos de cozinha (porque, caramba, não consigo olhar pra um jogo de três xícaras).

E vendo. Vendo sim. Porque nós vivemos em um país que ainda não aprendeu muito sobre a arte das vendas de garagem e na beleza de comprar coisas usadas mas em bom estado. A gente é muito esnobe ainda e não acha bonito comprar aquela mesinha por uns contos e lixar e pintar e usar. A gente só quer o que está estalando de novinho. Ah, que bobagem.

Porque sempre tem gente como a gente que também cuida muito bem dos objetos e que, nada de mais, de repente troca as coisas de lugar ou encapa o sofá e nada combina agora. E, aí, que mal haveria em vender/comprar aquilo que teve sua boa vida na casa de um e pode bem ir morar na casa de outro?

Eu gostaria de ter uma boa entrada de garagem, calçada ampla, boa de organizar tudo ali e esperar a galera vir comprar. Mas eu moro em prédio - e se eu colocar meus antigos pertences na saída de carros, provável que a filha da vizinha atropele meus pôsteres tão bonitos e os transforme em confete. Não seria um bom destino para Roy Lichtenstein.

Então, com a ajuda da rede, faço aqui meu 'garage sale' virtual. Só uma pontinha do iceberg de coisas que estão à venda. Sempre tem algo à venda na casa de quem 'joga tudo fora'.


Decanter para vinho. A gente aprecia bem a bebidinha, mas, né... Família italiana, a gente mata na garrafa mesmo. O decanter está ficando chateado com isso e quer um novo lar. R$ 45.
VENDIDO


Um massageador 'barra' diminuidor de celulite. Quase sem uso, porque a massagem é feita por sucção e me dava muita cócega. R$ 40.
VENDIDO

Pôster do amigo Roy, supracitado, ainda na embalagem e com paspatur branco.
Mede 28 cm x 36 cm. R$ 20.
VENDIDO


Minha amada mesa de centro que serviu muito bem por cinco anos (e ninguém diria, porque ela é rústica e porque eu ameacei a vida de quem colocasse copos molhados sobre ela). R$ 150.
VENDIDO


Pôster sem moldura da marca Daimler-Chrysler adquirido por um entusiasta dos automóveis. Mede cerca de 60 cm x 35 cm. R$ 30


Pôster com moldura completa de um dos meus filmes favoritos de todos os tempos. Veio de Londres, foi emoldurado e agora quer um novo dono. Sem um defeitozinho sequer. R$ 100.
VENDIDO


'Michael, ela vai vender meu pôster... Chame o consiglieri e acaba com ela...'. Mentira, Vito jamais faria isso comigo porque esse outro pôster com moldura completa de outro dos meus filmes favoritos de todos os tempos, que também veio de Londres, está lindo e intacto. R$ 100.
VENDIDO


Pôster para fãs do líquido preto mais famoso do mundo. Ah, não, não é da Coca. Pode ser Pepsi?
Mede cerca de 20 cm x 35 cm. R$ 15.
VENDIDO


Go, Speed Racer! E checa se o macaco não está trancado no porta-malas. Pôster bonitinho, embalado e nunca exposto, mede cerca de 20 cm x 35 cm. R$ 15.
VENDIDO


TV que muito me serviu para cozinhar e assistir barbaridades ao mesmo tempo (e não, não eram programas de receita com a Palmirinha, era filmão na TV a cabo). 6 polegadas, bom estado, aquilo tudo. R$ 90.
VENDIDO


Precisa dizer que veio de Londres? Ah, o metrô... Decore as estações, impressione os amigos, vá um dia ver de perto. Pôster emoldurado e com vidro, intacto, lindinho. R$ 90.
VENDIDO


Podemos tratar entrega com frete, hora de vir buscar com café e bolo, etc. e tal. Podemos dar mais informações também. Tudo no flaviapegorin@hotmail.com. Não se avexe: usados ainda têm seu valor, vamos achar novos lares pra eles.




sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

iMom

Eu e uma amiga falávamos um dia desses sobre um bom jeito de ganhar dinheiro rápido, fácil e na forma de 'bastante'. Eu sei, parece a classe média sofrendo de sua vidinha mais-ou-menos, tão opressora e terrível... mas a verdade é que os tempos estão bicudos pra quem tem a péssima mania de viver à margem do governo (pagando por fora pela escola, pela saúde, pelos seguros de todos os tipos etc.). Aí a gente achou que precisava de um dinheiro extra - e qual a melhor forma, hoje, senão vender uma ideia tecnológica muito bacana? Aquelas coisas que os garotos de 19 anos criam no dormitório da faculdade e depois vendem por zilhões. Bom, eu sou ruim de vender e já vão longe meus 19 anos, mas tenho umas ideias aí. Tá anotando, Dona Indústria de Aplicativos, Dispositivos e Outras Coisas Com as Quais Minhas Digitais Não Sabem Lidar? Então anote.

Na qualidade de mãe, eu sou uma fonte infindável de ideias para esse setor da sociedade. E olha que somos muitas. E olha que a gente não sabe instalar um bom antivírus no computador, mas somos fãs de tudo o que facilite e torne a vida mais sadia, alegre e funcional. Por exemplo, fotos dos nossos pituxitos da momõe em cada uma das mínimas cenas do dia a dia: tiramos, sim! Muitas! Mas perdemos vários cliques correndo em busca da câmera, ajustando foco, decidindo pelo uso ou não daquele horripilante flash-cega-nenê.

Muito mais negócio se alguém pudesse inventar um dispositivo acoplado aos nossos olhos, tipo um óculos bonito que pudesse ser acionado a cada momento visto por nós. Bebê riu, clique no óculos! A versão avançada poderia ser acionada por um piscar do olho? Eu agradeceria, porque perco meus óculos o tempo todo entre a papelada de trabalho e a roupa pra passar. Aproveita e insere uma opção de gravar vídeo também, eu acho bonitinho quando as meninas cantam canções inteiras em inglês errado.

Outro bom aplicativo para a vida real seria uma forma de gravar toda a rotina da criança para qualquer outro adulto que assumisse a liderança dos trabalhos. Como o pacotinho gosta da comida, onde prefere se aconchegar pra dormir, bicho de pelúcia favorito, canto mais apropriado pro castigo e frases de efeito pra evitar o castigo - tipo 'experimenta subir aí que você vai ver a mamãe virar um dragão em fúria'. Bastaria acessar a agenda e ver que agora é hora de brincar, depois precisa dar lanche, aí precisa sair 12h43 pra chegar na escola a tempo porque o trânsito no bairro parece enlouquecer exatamente às 12h44... Tudo isso.

Se der, podia incluir ainda uma máscara holográfica que deixasse o adulto responsável com a exata face da mãe ou do pai, conforme preferido no momento. Assim não tem aquele espetáculo da Broadway porque o pimpolho está morreeeendo de saudades da mamãe. Que saiu pela porta faz 38 segundos.

Os aparelhos que disponibilizam mapas, aliás, já podiam por favor evoluir para uma versão 'Pais em Desespero'? Porque é legal achar o monumento, o museu e a igreja, mas também seria ótimo descobrir onde fica o parquinho mais próximo, um restaurante amigo dos cadeirões ou um banheiro apropriado para trocas de fraldas - um que não se pareça com um beco de venda de crack ou uma jaula que comporta 12 gorilas destemperados.

Não é difícil, vai. Vocês conseguiram tornar sucesso de público aparelhos que se comunicam até com a MIR, aplicativos que fazem planta baixa e contam glóbulos vermelhos e jogos com passarinhos que assassinam porcos. Ponham aí as nossas necessidades maternais em prática. Toda mamãe agradece.


Alô, indústria? Precisamos conversar sobre umas ideias aí...