terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Considerações sobre um Carnaval televisivo

Não que eu tenha ficado tão sem programa que passei os dias de Momo ali, grudada na telinha. Pra dizer a verdade, vi pouco. Porque rolava uma folia ali mesmo no gramado do sítio do vovô, muito legal e familiar, com serpentina jogada no telhado, água pelos ares e confete grudando na boca - e porque, bem, Carnaval pela TV é algo tão batido, né?

Parece, por exemplo, que se a escola não faz um carro alegórico de índio, um anjinho carnavalesco perde as asas. Todo ano tá lá a alegoria de índio - seja no enredo sobre as navegaçoes, sobre a morte, sobre Marte, sobre o vento que bate nos coqueiros na bela Pariquera-Açu nos dias de verão. Tinha um enredo sobre Londres esse ano, né? Pode procurar, devia ter um carro de índio ali.

E, se não tem índio, pelo menos tem um cabeção. Aja criatividade, nossa... Todo ano, toca bolar um carro com cabeção. Cabeção careca com boca nervosa, cabeção cabeludo black-power, cabeção de Medusa (esse ano tinham dois!), cabeção de ET, cabeção de elefante, águia, boi, carpa, cabeção de índio, lógico, ou uma ilustre personalidade morta da nossa cultura popular. Acho que as casas de artigos de arte que vendem para os carnavalescos já disponibilizam até uns cabeções de isopor prontos hoje em dia. Tem lá a gôndola das penas, a gôndola do brocado, a gôndola das fitas e o armazém com centenas de cabeções esperando comprador.

Carnaval pela TV mostra ainda uma obviedade: repórter que está mal com a diretoria de jornalismo de sua empresa. Porque, ô desprestígio ser colocado ali, pleno carnaval, pra perguntar um monte de groselha pra gente que não está escutando nada e responde qualquer asneira pra não desconcentrar. Ou vai ver é o contrário: repórter ganha a incumbência de cobrir Carnaval com a promessa de, assim que houver vaga, virar correspondente no estrangeiro. Sua um bocado aqui mas depois vai lá fazer matéria a cada 18 dias em Portugal! Negocião, meu rei.

Pior que emprego de repórter de Carnaval, só emprego de empurrador de carro alegórico. Acho inacreditável que ainda achem gente bacana e desapegada suficiente pra, em vez de brincar a avenida, ficar ali na lida. E olha, tem agravantes: chega na hora H, tem carro que não faz a curva e fica de fora da festa! Não entra na fila, estava fora das medidas ou quebrou uma torre qualquer! Te contar, um ano pra fazer o negócio e sujeito sequer foi lá tirar as medidas de largura e altura pra passar o carro? Gênio, hein? Faz um enredo pra ele no ano que vem.

E aí fica sem graça, todo um trabalhão perdido e as moças que estavam encarrapitadas no carro são obrigadas a desfilar no chão. E, faz favor, quem bota sandália de cabrocha e roupa mínima adora a passarela, mas quem está usando toda uma fantasia cara cheia de luxo e originalidade (not), não quer descer do salto. Até porque, gente de carro samba é nada, vá. Só sabe fazer aquele remelexo embaraçoso de quem tem muito dinheiro pra bancar a exposição, mas não tem tempo de fazer aula com Carlinhos de Jesus.

Mas aí a coisa dá errado, a TV mostra... e a gente fica aqui, no camarote mais cômodo do país, só descendo a lenha. Programão, dididididi!

Até o ano que vem, cabeção indígena!

4 comentários:

Nanael Soubaim disse...

Sugestão de enredo para o ano que vem: As grandes cabeças da humanidade.

Cristiane disse...

E todo ano tem o quebra-quebra na apuração. E justo esse ano que eu não, a coisa foi forte!

Paulinha disse...

Amo desfiles de carnaval, apesar de assistir somente no conforto do lado de cá da telinha rsrsrs.
E aí... será que a minha Escola de coração será campeã com o cabeção indígena? rsrsrsrs

Shayenne disse...

Hahahah! Suas observações são sempre as melhores: cabeção, índio no enredo sobre a morte, sobre Marte, sobre Londres... =)

Eu até acho bonito, mas não tenho a menor paciência pra assistir...Também sempre me perguntei por que diabos eles não medem antes de fazer os benditos carros! Idéia totalmente apoiada: enredo pra esses gênios no ano que vem!