sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Sei nem porque é que faz

Vou dizer, é bem longa a lista de coisas que sabe-se lá por que alguém perde tempo precioso fazendo. Como por exemplo:

- Sala de ginástica em edifícios é um uso bem paspalho de espaço. Quantos vão naquele lugarejo queimar umas bordas recheadas? E quantos vão por mais de uma semana? E quem vai por mais de uma semana por prazer? Pessoal do ramo imobiliário que quiser ser mais sensato, favor instalar uma pizzaria ou sanduicheria com delivery para todos os andares do prédio por elevador de comida que desemboca na sala. Sucesso.

- Desfile das escolas de samba campeãs parece reprise - e não necessariamente dos filmes favoritos. Porque, né, quem chega ao sábado posterior ao carnaval com o mesmo pique e a fantasia intacta? O que se vê é um monte de moleque com chapéu capenga, roupa com lantejoulas de menos e pulando com um certo cansaço no corpo. E quem, por favor, assiste? Só as mães desses moleques.

- Esfira de verdura é outro atentado contra o senso. Sei nem por que fazer uma esfira que não vai carninha temperada ou queijinho derretido ou mesmo uma calabresa condimentada. Esfira de verdura deve ter sido inventada por uma mãe árabe que não se conformava de o Abdulzinho torcer o nariz pros vegetais.

- Outro item completamente dispensável é brinquedo para crianças menores de 1 ano. Falando sério: custam caro e fazem sons discutíveis em volume alto demais. Isso tudo numa fase em que o pivete só quer mesmo é brincar com a caixa, com o papel de presente amassado e morder e tentar o suicídio com aqueles arames de prender a coisa toda. Esqueçam tudo isso: dêem uma caixa de supermercado e dois rolos de papel-toalha naquelas maõzinhas gordinhas e vejam a felicidade genuína.

- O sinal de alerta é obrigatório nos veículos comercializados no país mas, bem, nos carros dos cidadãos com mais de 65 anos eles podiam ser removidos. Tiozinho não usa mesmo.

- Semana passada ouvi no rádio a notícia de que os bondes do bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro, voltarão a operar depois de toda a reforma pela qual carros e trilhos passaram (depois daqueles absurdos acidentes com vítimas que marcaram 2011). E agora, dizia entusiasmada a repórter, os bondes circularão por 10 km, não mais 7 km! E agora as pessoas só poderão andar sentadas e pelo lado de dentro, não mais em pé ou segurando nos apoios pelo lado de fora! Sei... e pra que bonde, então, se a gente só vai mesmo é cumprir trajeto sentado como numa aborrecida van Penha-Lapa? Hã?

- Por fim, eu não sei nem por que é que a Academia de Cinema de Hollywood perde seu tempo indicando e premiando Woody Allen. Perceberam que ele não curte, não liga, brigado, tenho nojo? Então.

Ganhei um Oscar? Iupi.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Considerações sobre um Carnaval televisivo

Não que eu tenha ficado tão sem programa que passei os dias de Momo ali, grudada na telinha. Pra dizer a verdade, vi pouco. Porque rolava uma folia ali mesmo no gramado do sítio do vovô, muito legal e familiar, com serpentina jogada no telhado, água pelos ares e confete grudando na boca - e porque, bem, Carnaval pela TV é algo tão batido, né?

Parece, por exemplo, que se a escola não faz um carro alegórico de índio, um anjinho carnavalesco perde as asas. Todo ano tá lá a alegoria de índio - seja no enredo sobre as navegaçoes, sobre a morte, sobre Marte, sobre o vento que bate nos coqueiros na bela Pariquera-Açu nos dias de verão. Tinha um enredo sobre Londres esse ano, né? Pode procurar, devia ter um carro de índio ali.

E, se não tem índio, pelo menos tem um cabeção. Aja criatividade, nossa... Todo ano, toca bolar um carro com cabeção. Cabeção careca com boca nervosa, cabeção cabeludo black-power, cabeção de Medusa (esse ano tinham dois!), cabeção de ET, cabeção de elefante, águia, boi, carpa, cabeção de índio, lógico, ou uma ilustre personalidade morta da nossa cultura popular. Acho que as casas de artigos de arte que vendem para os carnavalescos já disponibilizam até uns cabeções de isopor prontos hoje em dia. Tem lá a gôndola das penas, a gôndola do brocado, a gôndola das fitas e o armazém com centenas de cabeções esperando comprador.

Carnaval pela TV mostra ainda uma obviedade: repórter que está mal com a diretoria de jornalismo de sua empresa. Porque, ô desprestígio ser colocado ali, pleno carnaval, pra perguntar um monte de groselha pra gente que não está escutando nada e responde qualquer asneira pra não desconcentrar. Ou vai ver é o contrário: repórter ganha a incumbência de cobrir Carnaval com a promessa de, assim que houver vaga, virar correspondente no estrangeiro. Sua um bocado aqui mas depois vai lá fazer matéria a cada 18 dias em Portugal! Negocião, meu rei.

Pior que emprego de repórter de Carnaval, só emprego de empurrador de carro alegórico. Acho inacreditável que ainda achem gente bacana e desapegada suficiente pra, em vez de brincar a avenida, ficar ali na lida. E olha, tem agravantes: chega na hora H, tem carro que não faz a curva e fica de fora da festa! Não entra na fila, estava fora das medidas ou quebrou uma torre qualquer! Te contar, um ano pra fazer o negócio e sujeito sequer foi lá tirar as medidas de largura e altura pra passar o carro? Gênio, hein? Faz um enredo pra ele no ano que vem.

E aí fica sem graça, todo um trabalhão perdido e as moças que estavam encarrapitadas no carro são obrigadas a desfilar no chão. E, faz favor, quem bota sandália de cabrocha e roupa mínima adora a passarela, mas quem está usando toda uma fantasia cara cheia de luxo e originalidade (not), não quer descer do salto. Até porque, gente de carro samba é nada, vá. Só sabe fazer aquele remelexo embaraçoso de quem tem muito dinheiro pra bancar a exposição, mas não tem tempo de fazer aula com Carlinhos de Jesus.

Mas aí a coisa dá errado, a TV mostra... e a gente fica aqui, no camarote mais cômodo do país, só descendo a lenha. Programão, dididididi!

Até o ano que vem, cabeção indígena!

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Deu na TV aberta

Só capto uns flashes desse Big Brother porque, né, quem tem tempo de ficar espiando a vida alheia com a nossa própria dando pinta? Mas pelo que pude ver... Bom, eu tenho uma sugestão para a próxima prova do líder: dividir o lindo gramado da "casa" e colocar cada participante de quatro em sua área pré-determinada; quem pastar o quadrante primeiro, é o novo líder! Porque eu vou dizer, ô que amostragem de gente burra naquele lugar. Vai daí, Bial.

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Entendo nada de direito e bem pouco dos rigores da lei, eu admito. Mas quando dizem que o rapaz de 21 anos matou a menina de 15 e isso foi crime passional, eu penso "naonde?". Crime passional devia valer só pra quem protege pai, mãe e filhos. Não tem paixão e muito menos amor que se ligue diretamente com homicídio entre crianças.

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Por que a Ilse Scamparini, a correspondente da Globo na Itália, vive com aquela fachada de viúva, hein? Pessoa mora na Bota, deve ganhar bem, só trabalha quando o Papa morre ou quando o navio com 4.500 afunda (e, diga-se, dá ambas as notícias com o mesmo tom e semblante, assim como ao falar dos vinhedos, tomates e mussarelas pro Globo Repórter). Ilse, animação, sim? Grata, ragazza.

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Não sei como a Record ficou de fora da greve da Polícia Militar que se espalhou pelo país. Pra mim que a rede, sem polícia na rua virando pauta pros jornais da noite, da manhã e pro Carrossel Animado, fecha as portas. Deviam todos lá cruzar os braços e exigir a volta da notícia, digo, da polícia.

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Essa novela das 21h não tem Zé Mayer como galã, e sim como Náufrago? Que avanço, Vênus Platinada, uhu!

Ou Pé Grande. Ou o Rollo da Tina. Ou um Ewok. Tudo menos galã

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Por Henrietta

Não sei bem por que isso acontece - talvez uma boa fuga da rotina - mas eu tenho a mania (a dádiva? o desvio?) de me envolver doidamente com filmes e livros. Com os livros é pior até, por que os filmes acabam lá em duas horas e em mais duas eu já pensei muito sobre eles e é seguir vivendo. Mas os livros... Eles ficam a martelar na minha cabeça por dias, semanas, meses. Foi o caso da história impressa de Henrietta Lacks. Eu não esqueço mais da Henrietta, penso nela dia sim, dia não.

Quem me presenteou com "The Immortal Life of Henrietta Lacks" foi a minha querida Vivi. Na última visita dela em terras brasileiras, Vivi veio com um livro debaixo do braço, me entregou e disse: "foi o melhor livro que eu já li na vida". Ô, como eu desconfiei daquilo... Primeiro porque a Vivi é tão leitora que, cacete, como esse poderia ser, dentre centenas, o melhor que ela leu? Não sei se ela mantém a frase; eu mantenho. O melhor livro que já li.

Em primeiro lugar porque, até por ser jornalista, livros-reportagem são meus favoritos. Segundo porque, durante a leitura, a gente vai notando o nível de comprometimento de Rebecca Skloot, a autora. Ela tem esse nome meio assim, de monitora de acampamento do jardim da infância, mas ó: inacreditável a pesquisa, a dedicação, a perseverança de Rebecca ao contar a história de uma mulher negra, pobre, descendente de escravos, mãe, esposa e doadora involuntária das células que mudaram a minha e a sua vida.

Difícil explicar a situação toda que rendeu esse livro em algumas poucas linhas, em alguns poucos minutos. Para Rebecca Skloot, levou anos e anos e mais de 350 páginas. Eu vou tentar: Henrietta nasceu nos Estados Unidos, viveu com familiares em plantações trabalhando com tabaco e curtindo com os primos uma vidinha feliz. Ela casou com um desses primos, teve cinco filhos e, depois de sofrer penosa e horripilantemente com um câncer cervical, morreu em 1931 - por volta dos 30 anos. Atendida no hospital da famosa e hoje gabaritada Universidade Johns Hopkins, ela passou por tratamentos pra lá de dolorosos e, certa feita, teve amostras de tecido retiradas para pesquisa - num tempo em que (quando foi isso mesmo?) ninguém pedia pra um paciente pobre e negro a permissão dele ou da família para isso.

Bom, acontece que Henrietta, afinal, sucumbiu à doença. Mas as células retiradas do cérvix dela não. As células continuaram a se reproduzir mesmo depois de retiradas do corpo. Hoje sabe-se que isso não é feitiçaria e existem outras células, de outros pacientes, que têm o mesmo poder. Mas nenhuma como as de Henrietta, que carregam todas as características originais e, nas mãos de cientistas do mundo todo, resultaram em milhares de estudos decisivos para a medicina. Como uma coisinha tola aí chamada vacina contra poliomielite.

Acontece que a história toda parece assim uma coisa meio "pra doutor entender", mas não é. Em meio a todas as explicações técnicas, o que surge, isso sim, é a discussão sobre quem é dono do nosso corpo, os direitos e todos os meandros a respeito da ética na saúde e, além e acima de tudo isso, a família de Henrietta. O fato de eles terem sido excluídos da questão por anos, de jamais terem recebido um auxílio sequer vindo dos rendimentos da venda das células, de terem tido suas vidas reviradas, sacudidas e sovadas pela morte de uma mulher que carregava todos.

"A Vida Imortal de Henrietta Lacks", felizmente nas livrarias brasileiras há muitos meses, é imperdível. E impossível não se sentir parte da história e se fazer um milhão de questionamentos pessoais, sociais, psicossociais e sobre a nossa humanidade. É de dar uma porrada na nossa espinha e bagunçar qualquer certeza que a gente tenha? Sim. Por isso mesmo esse é um livro pra ser lido. E vivido, e recordado pra sempre.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Minhas férias

Nós fomos à praia em família e a pousada não ficava perto da praia, ficava ao lado de um riozinho. Toda manhã, depois de um café indecente de tão bom, o Marcel levava a gente no barco pelo riozinho até atracar na areia e nos largar na praia. Comíamos milho cozido cortado com manteiga, bebíamos água de coco aos litros (e umas biritas malvadas também, não vou negar) e fazíamos castelos com e sem túnel subterrâneo - mas os sem túnel tinham graça nenhuma.

Cinco dias na praia, de férias, Dono da Casa, meninas e eu, valeram, como sempre, por uma vida. Aquela água salgada parece ter o dom de nos deixar contentes - e olha que as aulas de surfe ministradas ali na praia ficaram pra uma próxima, o que com certeza vai render as maiores risadas.

Peixe fresco pra comer, sol pra esquentar, uma cama pra cair de noite antes mesmo das 22h, que o vigor muscular para remar a canoa toda tarde e alegrar Sabrina não é mais aquele. Ficamos muito juntos, falamos muita besteira, comemos até um picolé de açaí pavoroso por engano - e eu ainda digo, em minha defesa, que a fruta da embalagem parecia demais uma uva. Tudo o que férias devem ser.

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Sabrina se mandou pro sítio da vó e do vô por uns 10 dias. Eu não sei bem o que aconteceu por lá, mas ela voltou mais cheinha, mais mimada, falando alto e me perguntando absurdos como "Mãe, você assiste a novela 'A Vida da Gente'? É legal!". Mais uns dias e ela começaria a fazer tricô, trocar os nomes das pessoas e achar o Agnaldo Rayol um pão.

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Lica e Sá precisaram ser despachadas pra casa dos parentes uma vez mais, por três dias, pra eu poder acompanhar o Dono da Casa numa viagem da firma. Antigamente eu abominava com bônus essas viagens, achando que ninguém ali tinha picas a ver comigo (como se eu fosse a artista principal) e que era um porre de gim tônica aturar o papo de certos tipos. Faz um tempo que mudei de ideia. Tenho uma sorte dos infernos e, toda vez, conheço alguém adorável que vale horas de papo. Minha nova amiga de infância é a Claudia, a portuguesa mais linda e divertida de todo o continente (o dela e o nosso).

Eu e Claudia ficamos na piscina onde ninguém ficava, papeamos sobre Portugal e sobre o Brasil, comemos lanches bons e refeições ruins, sorvemos com prazer umas caipirinhas, levamos picadas de insetos procurando um orquidário feio e seco, dançamos na festa e nos caçamos com olhares na multidão quando alguém meio chato alugava nossos ouvidos. Não vejo a hora de encontrá-la de novo. E de vir uma nova viagem da firma no ano que vem.

Em tempo: as meninas ficaram muitíssimo bem sem nós, mesmo a pequena, largada pela primeira vez. Parece que nem sentiram falta e acharam até que um bom negócio ficar sem pais por uns dias em troca de presentinhos safados. Em quase sequei por dentro de saudades e tive a impressão onipresente de ter esquecido algo em casa - não chaves ou óculos; talvez filhas. Mas sobrevivemos.

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Quando eu era pequena havia um poderoso highlight pra aplacar a dor do fim de férias: comprar e arrumar o material escolar. Era um tal de adquirir borrachas cheirosas, cadernos e livros estalando de novos e uns extras como caixas de lápis de cor de 24 joias raras. Era uma diversão ímpar passar o plástico sobre todos eles, encapando cada qual pra não estragar e empilhar tudo na mesa pro dia de voltar às aulas. E agora eu sei porque eu amava tanto tudo isso: não era eu a responsável por essa porra.

O material da Sabrina tomou uns 12 dias de apuros. Livros faltando nessa editora e naquela livraria, cadernos muito específicos duros de encontrar mesmo na internet, uma montanha de dinheiro tostada e uma dor lancinante quando a tesoura sem ponta acertou meu polegar.

Pra não falar sobre a hora de encapar a coisa toda com aquele plástico virado no demônio que escorregava e girava e se retorcia. E olha que eu tenho uma certa habilidade manual. Imagino as pobres mães que não a tem. Se bem que Sabrina já contou que a maioria das crianças levou tudo sem encapar. Eu vivo no passado, aparentemente.

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Nessas férias a Olívia andou. Andou e caiu, andou e tombou, andou e ameaçou correr. E correu um pouco. Nasceram mais dois dentes, agora incisivos e superiores, desses bons pra rasgar carninha. Está crescendo como bambu no mato, essa dengosa. E as férias passam rápido demais pra aproveitar isso e todo o resto, não?

Essa não era a nossa praia. Ano que vem, quem sabe?