terça-feira, 29 de novembro de 2011

Fala que eu até escuto

Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, minhas filhas teriam que almoçar carne, peixe e frango - e mais um ovo frito, talvez - pra dar a conta de toda proteína sugerida.

Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, eu mudaria pro campo e pra praia simultaneamente, pra ter um ar melhor combinado com uma alimentação mais sadia e espaço pra correr. Moraria, quiçá, ali na mata que fica na serra entre Suzano e o litoral paulista...

Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, pararia a vida toda, largaria meus três tipos de ganha-pão, e passaria o dia entre pintar porcelana e tirar sonecas. Porque, segundo dizem, meu problema é que eu sou estressada.

Aliás, se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, meu problema seria estresse, excesso de zelo, falta de zelo, culpa católica, tendência ao ateísmo, cuca muito fresca, mania de controle, falta de controle, orgulho demais, vaidade de menos. Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, eu teria até mais problemas do que eu tenho de verdade.

Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, minhas filhas se vestiriam bem demais ("pra que tanto vestido?") e bem de menos ("deixa a menina usar uma camiseta com fio puxado?!"). Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, elas também estariam gordinhas demais e magrinhas demais, muito altas e muito baixas, muito brancas, muito vermelhas e muito amarelas. Ah, e elas também comeriam chocolate demais e de menos e seriam muito mimadas e muito desprezadas.

Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, eu teria um apartamento de condomínio de 250 metros quadrados, quadras poliesportivas, academia, portaria 24 horas, salão de baile, seis elevadores e mensalidade milionária. Mesmo eu não gostando de absolutamente nada disso.

Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem eu teria que trabalhar em tempo integral e contratar babá, empregada, cozinheira e motorista - e também teria que largar tudo isso e cuidar tempo integral da minha vida por conta própria. Só porque as pessoas não se decidem sobre o que acham mais saudável.

Por sinal, se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, eu seguiria a alopatia, a homeopatia, a antroposofia, beberia litros de florais, usaria uns unguentos aqui e ali e faria sessões com um xamã. Tudo junto.

Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem eu iria uma vez por semana ao cinema, uma vez por semana ao cabelereiro, uma vez por semana jantar com as amigas, uma vez por semana fazer massagem, uma vez por semana na psicóloga e passaria o fim de semana numa pousada de charme à sós com meu marido. Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, eu seria uma mescla de Angelina Jolie com Imelda Marcos!

Se eu fosse ouvir tudo o que me dizem, já teria parado de ouvir tudo o que me dizem. Porque todo mundo é gentil e tem boa intenção ao dar conselhos, mas ainda acho que, na prática, a teoria costuma ser outra. E a gente segue fazendo o que pode e como sabe, né?

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

É moda

Tenho nem vergonha de admitir que estilo para vestir nunca foi o meu forte. Exceto por algum relance (bem) esporádico, meus conhecimentos e habilidades nessa área são pra lá de limitados. Eu não combino bem cores - a não ser que usar preto com preto seja uma combinação. Eu não jogo bem com camadas, com acessórios e não sei um nhé das tendências.

Visto só o que eu acho bonito e que fique confortável. Isso é o máximo que eu sei fazer com moda - botar um jeans, uma blusa, um sapato razoável. E nem adianta dizerem "ahh, mas pelo menos seus sapatos são legais!". Eles são mesmo, mas pelo mero acaso de o meu bairro ser um desses redutos de gente ananaíra bem-lançada que vende uns sapatos bons de usar E engraçadinhos. E, sendo sincera, eu só compro porque são bons de usar. Se fossem apenas engraçadinhos, eu passaria reto.

Tudo isso é culpa de uma criação que não privilegiava o estilo, de uma verba curta pra coisa toda e de uma certa ojeriza a lojas e provadores. Tenho um bode tremendo de explicar minhas preferências pra vendedores (principalmente para aqueles que acham que, se brocado está na moda, eu devo usar brocado. Eu abomino brocado. E esse é um bom exemplo da minha intimidade com a moda, já que o brocado não é algo válido desde 1976).

Gosto mesmo é de lojas de departamentos que colocam tudo lá e a gente que se vire. O problema é que, além de sem-estilo, eu também sou um chute no saco quando se trata de roupa. Acho quase tudo feio, bobo, de qualidade duvidosa e custo elevado. Ou seja: pode ter lá a maior loja do mundo, com 50 mil cabides... a chance, ainda assim, de eu achar algo que goste é menor que a chance de o Paul McCartney ligar aqui em casa e me chamar pra comer churros.

Vou vivendo assim, à margem da moda, mas com um certo desagrado. Eu queria saber mais, usar melhor, comprar com gosto. Mas é difícil. Veja como é difícil.

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De uns quatro meses pra cá, eu perdi uns 6 ou 7 quilos. E nem adianta cumprimentar, visto que pra mim magreza não é virtude e que esses quilos se esvaíram por estresse e baixo astral... Por sorte, passou! Mas os quilos ainda não voltaram.

O caso é que eu acredito que em breve os quilos voltarão, sim. E as calças que agora me caem pelas cadeiras, como fazer? Mantenho pra usar quando voltar a ser rechoncha? Dar embora e comprar novas, mais acertadas? Comprar uma nova, mas manter a velha, pra ter aquele versátil "guarda-roupa de magra - barra - guarda-roupa de gorda?

Eu acho que os suspensórios seriam a melhor solução... Vou apanhar das fashionistas na rua?

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Tudo bem, tem loja com vendedor chato, música ruim no áudio, preços esclerosados, etc.. Mas nada se compara, na questão demoníaca, aos cabides que elas usam. Eu tento ser cliente discreta e delicada, passando as peças lentamente pra ver direitinho... mas não tem uma vez que a porra da camisa/camiseta/vestido fica parado no cabide. Devem passar vaselina naquelas hastes. As roupas se atiram no chão sempre, me causando o maior desconforto.

A Julia Roberts ficou avexada por ter sido posta pra fora da loja chique em "Uma Linda Mulher" só porque a moça achou que ela era pobre e rameira? Imagina derrubar um monte de roupa do cabide por 36 anos, o trauma que causou em mim!

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Quando eu era criança, a moda não me dizia nada. Adolescente, ela ainda não me dizia nada, mas pelo menos eu sabia que me vestia mal, e aí sim começou a ser problema. Teve um dia, por exemplo, em que eu me vesti pra ir no bailinho de uma amiga (ocasião adolescente anos 80 equivalente a Baile de Gala do Met pras socialites americanas de hoje). Ficou "tão bom" que o meu irmão me agarrou pelo braço e me levou trocar de roupa.

Mandou tirar a saia escrota e colocar uma calça jeans básica. Mandou colocar a camiseta branca, dobrou as mangas pra ficar cool, descolou um cinto da nossa irmã mais velha e, cabelo solto penteado e mais uns acessórios, ficou um show. E meu estilo básico ousado (apesar de ser uma fraude) me tornou a sensação daquela festa.

Agora me digam se uma garota que, adolescente, precisou da ajuda *do irmão mais velho heterossexual e baixista de banda* pra se vestir teria alguma chance com a moda nessa vida.

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Esses programas da TV em que os apresentadores se lançam na tarefa de tirar o mau gosto do mundo consertando um cafona de cada vez são meu guilt pleasure. Adoro a tiração de sarro, a postura estúpida dos envolvidos, as dicas. Ah, as dicas... Compreendo todas, mas acho que uso nenhuma.

A primeira coisa que eles sugerem, por exemplo, é que a pessoa sem estilo (como eu) não seja gado e pare de comprar na mesma loja, as mesmas coisas, nos mesmos modelos só trocando as cores. Bem, até o fechamento dessa edição aqui, eu possuía quatro camisetas da mesma Luigi Bertolli em quatro cores distintas.

Caiu bem a peça, eu juro! Ok, já pode chamar o camburão... Eu aceito ser condenada por falta de moda.

Meus companheiros nessa luta!