Sabrina, por exemplo, é ás na produção deles à essa altura. Tem até seu próprio arsenal - e cuida muito bem de seus mini-batedores, mini-forminhas, mini-espátulas e daquele avental enorme. Falou em fazer bolo, ela larga até o Peixonauta falando sozinho.
Criança adora mesmo o feitio de guloseimas - e, oras, quem vai culpá-los, afinal é uma brincadeira que envolve bagunça, sujeira, barulho de aparatos elétricos cortantes e forno quente. E depois ainda dá pra comer a brincadeira! Eu aprendi com eles a me divertir não só com o resultado, mas com o processo. E olha que eu tenho uma mão podre pra bolo.
A maioria sempre saiu meio esquisita, meio soladinha, meio sapecada, meio torta... Mas o sabor sempre foi aceitável. Pra evitar o desapontamento, aprendi também a seguir receita militarmente. Não aumento ou diminuo nada em meia grama, não substituo, não invento. Se a receita dá certo, na próxima vez faço de modo mais CDF ainda, pra não errar. E não erro mais. Tanto.
A única coisa que me permiti arriscar foi trocar as formas. Há algum tempo, faço as massas de bolo e, pra divertir a molecadinha, em vez de colocar todo o grude em uma aborrecida forma circular ou quadradona, separo em porções. Em bolinhos. Muffins, como eles dizem lá. Cupcakes eu não diria, que daí precisaria confeitar coloridamente e... bom, eu costumo achar toda cobertura de cupcake uma bela droga.
Uso a forma de muffins em lugar da padrão e nada sai errado. Muito pelo contrário. Descobri que assim, além de ficar tudo mais bonitinhos e encantar a petizada, ainda inibe a glutonice. Sim, porque, de faca em punho, eu sou capaz de destruir meio bolo em um chá da tarde. Com o bolinho avulso, um me basta. Não que estejam aqui vigiando quanto eu como, porque nem eu mesma vigio. Mas um basta mesmo. Pelo menos até o próximo café.
Se dia desses quiser testar seus habilidades e promover um salto de empatia com a criançada, garanto que a maioria das receitas permite a troca da forma grande pelas pequeninas. E eis abaixo uma sugestão de bolo. Normalmente a massa, depois de misturada, deve ir em uma forma tipo americana, aquela retangular típica de pão de forma. Mas, separados em bocaditos, as horas de alegria e deliciamento se perpetuam. Tenta aí:
Bolo de Limão com Papoula
Ingredientes: 2 xícaras de farinha peneirada; 1 xícara de açúcar; 1 colher (chá) de fermento em pó; 1 pitada de sal; 1/4 de xícara de leite; 4 ovos; 1 colher (chá) de essência de baunilha; 200 g de manteiga; 1/3 de xícara de sementes de papoula; 1 colher (sopa) de casca de limão ralada.
Ingredientes da calda: 1/2 xícara de açúcar; 1/3 de xícara de suco de limão.
Preparo: Em uma tigela grande, misture a farinha, o açúcar, o fermento e o sal. Reserve. Na batedeira, bata rapidamente o leite, os ovos e a baunilha. Acrescente a manteiga em temperatura ambiente e os ingredientes secos aos poucos batendo até misturar bem. Acrescente as sementes de papoula e as cascas de limão, mexa mais um pouco e coloque nas forminhas (de preferência, já forradas com forminhas de papel; senão, deve-se untar com manteiga). Leve para assar em forno moderado (180oC) por cerca de 25 minutos. Misture os ingredientes da calda em uma panela e leve ao fogo baixo, mexendo somente até derreter o açúcar. Quando retirar os bolinhos do forno, pincele a superfície com a calda. Deixe amornar e sirva. Rende cerca de 14 muffins.
Um P.S. meio longo: encontrar as sementes de papoula está muito difícil hoje em dia. E o motivo não podia ser mais estúpido. A fiscalização brasileira não permite mais a importação do produto alegando que ela poderia ser usada como alucinógeno. Non sense: as sementes culinárias não são germinadas e por isso jamais poderiam dar vida a uma plantação de ópio-que-passarinho-não-bebe. Sem elas o bolo ainda fica bem gostoso, mas sem o "twist". Agradeça à cretinice da vigilância nacional.