terça-feira, 25 de maio de 2010

Eu não

Acontece que é assim: a gente passa a vida agindo de certas maneiras que, vez por outra, acabam formando uma fama. E quem faz a fama... vocês sabem. Só que antes de deitar nessa cama, só pra deixar claro...

... eu não resolvo tudo de imediato. Eu não posso com o peso de mundo nas costas. Eu não sou pau-pra-toda-obra. Eu não sou uma mãe imaculada, uma esposa perfeita ou uma filha exemplar. Eu não conheço todos os caminhos, eu não cozinho de tudo, eu não tenho todas as respostas. Eu também não sei onde tudo está guardado.

Eu não quero ouvir os problemas de todos. Eu não dou os melhores conselhos. Eu não aceito todas as brincadeiras, eu não tenho paciência infinita e eu não sou à prova de palavras duras. E eu não espero ninguém por mais de 20 minutos.

Eu não trabalho por amendoins, eu não faço tudo pra ontem, eu não gosto de gracinha pro meu lado. E eu não passo por cima de tudo por uma reportagem ilibada, mas eu também não faço nada "de qualquer jeito" e nem "do jeito que der".

Eu não sou amiga de fulano, sicrano e beltrano, todos ao mesmo tempo, pra sempre e até no plano virtual. Eu não dou carona pra qualquer um, eu não vou na casa de qualquer um e eu não faço brindes com qualquer um.

Eu não tenho todo o tempo do mundo. Eu não desculpo qualquer coisa. Eu não sirvo bem para servir sempre e eu não dou aos pobres pensando em emprestar pra Deus. Eu não dou a outra face, eu não aceito que o mundo é dos espertos e eu não concordo que o cliente tem sempre razão.

Enfim, eu até criei essas famas de durona, de independente, de ser rápida, sincera e engraçada. Mas eu não sou só isso, não. Tudo bem? Ou não?

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Dessas esquisitices senis

Aí a gente lembra que criança tem muita mania, mas que isso não é nada comparado aos velhinhos. Vovôs e vovós, minha nossa, tiveram uma vida inteira pra amealhar suas esquisitices - as mais piradas esquisitices, claro.

Minha saudosa Vó Ondina tinha uma seleção delas, aquela maluca. Primeiro que ela jamais usou calças. Isso aí: ela dizia que não ficava bem uma senhora de cabelo branco usar calças. Minha vó não conheceu Coco Chanel, por certo... Aliás, minha vó morreu sem acreditar que o homem foi mesmo à Lua, que dirá conhecer os conceitos da revolucionária estilista!

Vó Ondina sempre tomava o suco de um limão espremido antes de dormir (talvez daí ter vivido até os quase 90 anos). E como dormia cedo... Acabava o Jornal Nacional, ela se recolhia. Não curtia novela das 20h, só das 18h e das 19h - e sempre xingando alto os vilões folhetinescos com palavras as mais engraçadas, como "miserento!".

Velhinhos e velhinhas são assim, encaram bem ressabiados as coisas que lhe fogem do conhecimento. As "coisas modernas", vá - mesmo que por "moderno" entenda-se um telefone. Pois minha amiga Vivi sempre me matou de rir com as histórias de sua adorável vovó. Depois das 16h, bastava tocar o telefone pra Vó soltar seu batido "ai, meu Deus, quem será uma hora dessas?". Bom, podia ser... QUALQUER UM? 16h, Vó!

Obviamente, eu adotei o bordão da velhinha imediatamente. O pessoal aqui já nem se espanta quando, segunda-feira ao meio-dia, lá estou eu apanhando o telefone e dizendo "ai, meu Deus, quem será uma hora dessas?". Tão divertido! Manias de velhinho não são, como muitos pensam, essas esquisitices chatas de quem perdeu lugar no tempo. Muitas vezes a gente age assim, como se eles já tivessem dobrado o cabo da sanidade, e os trata como pirados. Mas eles estão ligados... pelo menos quando importa.

Ontem mesmo eu soube da coisa mais incrível dos últimos tempos. Meu pai foi visitar sua fofa mãe, Vó Emília. Vó Emília está lá, firmona, mesmo com a voz e a memória meio zoadinhas por causa de um derrame. Mas do que ela quer lembrar, lembra muito bem.

Meu pai em visita, ela foi ao quarto, abriu o guarda-roupas secular, tirou uma caixa. De dentro, apanhou o conteúdo, veio à sala e depositou tudo nas mãos em concha do meu pai. Bolinhas de gude. Um punhado gordo de bolinhas de gude. E quando ele disse "que é isso, Mãe?", ela explicou: "ah, é que eu tomei de você quando você era moleque. Tinha feito uma malcriação. Agora pode levar de volta".

Sim, minha Vó Emília guardou as bolinhas confiscadas por 60 anos. Mas lembrou de devolver. Justiça, ainda que tardia, é a mais incrível das esquisitices de velhinhos, não?

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Dessas esquisitices mirins

Quando eu era pequena, tinha muitas, muitas... vamos chamar de "peculiaridades", vai. A primeira de todas, que me lembre, foi trocar meu próprio nome.

É isso aí: pro público em geral, eu jamais me apresentava com o nome de Flávia. Flávia, pra mim, não era ninguém. Meus pais não sabem explicar bem - e eu menos ainda, juro - mas sempre que perguntavam meu nome, eu dizia que me chamava Chica. Chica, assim mesmo, como um apelidinho para Francisca.

Segundo consta, eu só atendia por Chica e Chica apenas. Ficou bem estranho explicar isso entre parentes e amigos - até que eu ganhei uma boneca de pano fofinha e adorável e coloquei nela o nome de Cezona. Daí acho que as pessoas ao redor entregaram pra deus e apenas assumiram que eu tinha gosto pra nomes absurdos.

A próxima esquisitice que lembro de desenvolver, aos 6 anos, foi o hábito de assistir "Comando da Madrugada" todo domingo às 7h da manhã. Acordava e não, não ia pra cama da mamãe ganhar cafuné: ia assistir às reportagens reprisadas do Goulart de Andrade.

Depois disso eu tomei gosto por comer Cremogema, depois disso eu me tornei uma desenhista compulsiva de plantas de apartamento e depois disso eu só quis usar kichute (até pra ir em casamentos e missas em geral). Tudo antes dos oito anos.

Felizmente nada disso me levou ao consultório do psicanalista. Porque é bem fácil saber que não foi um privilégio meu ter toda uma gama de esquisitices de infância. Todo mundo as tem, eu acho. Minha irmã, de pequena, tinha um amigo invisível chamado Relno. Meu irmão, menininho, colocava o nome de Dursley em to-dos os bonecos que possuía.

A filhinha de um amigo cismou que, quando crescer, quer ser dançarina de axé (quase enfartando seu intelectualíssimo pai). Minha sobrinha Isabella, de pequenina, só disse uma única palavra por dois anos: "não". Sabrina é viciada em ouvir "Paparazzi", da Lady Gaga, e o Dono da Casa, enquanto criancinha, só queria ter como bichos de estimação escorpiões, cobras, ratos e uns répteis de aparência nauseante.

Sei lá se é uma hora de descobertas e testes de personalidade os mais variados. Só sei que criança saudável é cheia de manias. Agora deixa de ser esquisito e conta as suas também? A Chica jura que não vai rir...

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Duas de ontem

Daí estávamos nós voltando da escola, carregando mochilas etcs., e camelando pelos dois andares escada acima. E a Sasá me diz:

- Mamãe, tô cansada... Podia ter um elevador no nosso prédio, né?
- Ah, Sá... Podia. Mas elevador também é chato, porque demora, vive cheio de gente, teríamos que esperar muito. Tudo tem seu lado bom e seu lado ruim, né, filha.
- ...
- Que é essa cara, Sá?
- Mãe, o lado ruim tá fazendo doer o meu joelho.

* * * * *


Daí ela, mais cansada ainda, estava saindo do banho, toda manhosa de sono. E assim, do nada:

- Mãe, eu não quero que você fique velhinha.
- Bom, filha, eu acho que isso ainda demora. E quando eu for bem velhinha, você vai ser também e a gente vai curtir bastante!
- Mããe... (choramingando daquele jeito mais mariquinha) Eu não quero ficar velhinha!
- Ô, Sá, por que não?
- Porque tem que cuidar de muitos netos, fazer comida pra todos, ficar ouvindo o tempo inteiro 'vó, vó, vó!'...

E daí a gente conclui duas coisas: primeiro, que as crianças de hoje são muito mimadas pela tecnologia (mesmo sendo ela um mero elevador); e, segundo, que já aos 5 anos é possível ter uma observação bem apropriada da realidade (mesmo ela não virando uma boa auto-crítica).

segunda-feira, 10 de maio de 2010

E eu e você, o que nós faríamos?

Todos os dias eu me pego questionando, ponderando e me debatendo com a cidadania. O que é isso, como praticar, como fazer os outros praticarem, por que é importante - e talvez, principalmente, se é normal sofrer quando vejo ela não ser nem praticada, nem respeitada. Não sei se é porque eu sou mãe, agora quase que duas vezes, ou se isso já vivia em mim. Mas eu sei que, ultimamente, a sociedade e sua vida coletiva vêm me importando muito. Muito mesmo. Demais. Ei, você deixou a torneira aberta hoje ao escovar os dedos, seu mané?!

Respiro fundo ao ver que o menino do mercado coloca as compras daquela senhora nas sacolas plásticas - mas só dois, três itens em cada uma. É um martírio. Assim como é doloroso ver, na avenida aqui perto, papéis, garrafas e toda sorte de porcarias jogadas nos cantos das calçadas. Assim como me sobe o sangue notar que aquela mulher ali deu um tranco no bracinho do filho só porque ele estava sendo saliente. Assim como me corrói por dentro ver um rapaz xingar o outro no trânsito e perceber que, aimeussais, ele está falando no celular enquanto dirige e vocifera!

Às vezes eu saio de mim e arrisco a pele. Abro o vidro do carro e grito "mas que falta de educação, criatura!!" para a mulher que jogou a ponta do cigarro pela janela. E, ao ver a moça se debater para avançar na calçada onde o carro estacionou de atravessado, fechando a passagem para ela e seu carrinho de bebê, coloco a cabeça pra dentro da loja em frente e cacarejo sem parar pra que a vendedora instrua seus clientes a não serem uns folgados de merda. Se eu tenho medo de represálias? Morro.

Mas aí fica assim, né, essa coisa da convivência-cidadã: se a gente morre de medo do confronto, de dizer ao outro "escuta aqui, você está sendo um folgado de merda", pra onde vão os limites? Com certeza, tem gente que só se porta assim, sacanamente, porque sabe que ninguém vai se rebelar e lhe dizer umas verdades. Ou chamar a polícia. Ou se acorrentar na árvore. Ou gritar no megafone pelas ruas. E se a gente, como grupo, se impuser? Será que o segredo da cidadania não está aí, em demonstrar?

Na TV, sempre me pego vendo, obcecada, esses programas sobre modos mais ecológicos, coletivos e engenhosos de levar a vida - incomodando menos ao ambiente e aos outros. Me tocam muito, esses programas. E recentemente achei um que se chama "O Que Você Faria?", que vai ao ar no GNT (sou incapaz de dizer os horários, porque o GNT também o é), e que quase me leva às lagrimas todo santo episódio.

A proposta tem como base uma "pegadinha", mas não aquelas imbecis, pra rir. Elas são de preocupar. A produção cria as situações com atores pra testar a reação do público. Na loja de conveniência, colocam um vendedor e uma cliente dissimulados - ela vestida como muçulmana, ele se portando como um racista cretino, se recusando publicamente a atendê-la insinuando que ela "compactua com esses terroristas". E o que os demais clientes, esses de verdade, fazem nessa hora?

A gente pode achar que subiria no balcão e daria com força na cara do fulano, mas não sei... O que você faria? Teve gente que se esquivou. Teve gente que defendeu feericamente a moça. Teve gente que... bom, teve gente que defendeu o vendedor e mostrou um lado da raça humana que me ressente muito.

Em outras situações, adolescentes (atrizes) estão num parque incomodando uma outra, sozinha e nerdinha. Provocam, insultam, acuam. Benditos sejam os que ouviram, pararam, se impuseram, protegeram, discursaram. Quantos de nós faríamos isso, será?

E na rua, quando a atriz faz a baliza e dá uma arregaçada no carro de trás, descolando o para-choques, e mesmo assim sai apressada, ignorando de propósito o que fez? Quantos de nós a enfrentaríamos e chamaríamos um guarda, ou defenderíamos o dono ausente do outro veículo?

Eu não sei. Mas eu gostei de ver aquele grupo de mulheres que parou, fez um sermão pra "barbeira", telefonou pra polícia e esperou ali, mesmo com filhos a tiracolo, pra ver se o problema se resolveria. Disseram para o apresentador do programa, depois, que "era o certo a fazer. E foi bom as crianças verem tudo, pois assim aprenderam algo".

Eu? Eu acho que tentaria dizer pra "barbeira" que vi o acidente e que ela deveria fazer o certo. Se ela fosse embora mesmo assim ou reagisse, acho que eu seguiria em frente - mas voltaria logo depois ali e deixaria um bilhete no carro parado, com a placa da filha da mãe descrita.

Gostaria de pensar que eu armaria um fuá em qualquer uma dessas situações. Que botaria o dedo na cara dos anti-coletividade, dos suspeitos, dos racistas e dos bullies. Gostaria de ter 100% de certeza sobre o que faria, mas só tenho uns 85%. Felizmente, acho que estou cada dia mais pensativa sobre isso, me preparando para os confrontos que tiver que assumir por uma sociedade mais cidadã.

Mas e você? Já pensou sobre o que faria?


Trecho de um dos programas "O Que Você Faria?". Bom, nesse caso eu acho que me rebelaria instantaneamente, sim. Além de chamar a SWAT pra conter a corretora from hell

quinta-feira, 6 de maio de 2010

No DVD e no coração

Desde muito pequenininha, a Sabrina revelou um gosto especial - e meio viciado - por filmes. Não, ela nunca foi e ainda não é uma telemaníaca (como a Sócia da Light aqui, diga-se). Ela curte os desenhos, mas os troca fácil por outra brincadeira. Já os filmes... a menina gruda naquelas caixinhas e não tem quem desvie a atenção. Por isso a DVDteca da Sabrina é assim, uma imensidão.

Eu e o Dono da Casa achamos legal. Primeiro, porque nós também somos bem chegados num filme. Segundo, porque a Sasá não parece ficar apenas hipnotizada pela tela; ela parece se envolver de verdade, querer entender cada detalhe das histórias, se emocionar com elas e, assim, mesmo no mundo da fantasia, tirar ótimas conclusões.

Porque filme bom pra criança é filme com mensagem. Tudo bem, o Pica-Pau ainda é rei por aqui (e a gente ainda se mata de rir com bigornas na cabeça, bruxas incendiadas e gente lançada pela cachoeira num barril), mas também é bom mostrar alguma coisa que não incentive o uso de objetos perfuro-cortantes, vai. Daí entram em cena os filminhos mais modernos.

Hoje em dia, as histórias lançadas no cinema e depois no DVD para a molecada são muito mais caretinhas, sim. Mas também podem ser muito, muito engraçadas, criativas e, de quebra, educativas. Porque, pode crer, os pequenos prestam mais atenção quando o panda balofo é quem dá seu recado de vida.

Sabendo disso, coloco abaixo três dicas da Sabrina. São três dos DVDs que ela mais adora - e que servem como presente para essa faixa das criancinhas ainda pequenas, mas muito espertinhas.

Pooh e o Efalante
É de uma doçura tão docinha que gente com diabetes talvez não possa ver. Mas é uma graça. O traço desses desenhos do manhoso e abestalhado Ursinho Pooh (ou Puff, pra quem é do meu tempo) são uma pintura desde que surgiram, há décadas. Na história recente, porém, o Pooh é secundário. Quem brilha são Guru, o canguru mirim, e Bolota, um Efalante (não me perguntem). A amizade improvável entre os dois é um encanto e um alerta para as crianças menores - e ainda rende um roteiro divertido.

Turma da Mônica - Uma Aventura no Tempo
Sabrina ainda não se liga muito nos gibis da Mônica porque as histórias em quadrinhos ainda não são bem compreendidas em forma e ironia por ela. Mas a forma e ironia do desenho encenado, esses pegam a mocinha de jeito. Ela adora o imbróglio armado pela turma, que precisa viajar por épocas distintas como a pré-história e o futuro espacial para recuperar os elementos água, terra, fogo e ar. Cebolinha tentando se livrar da prisão cuja palavra-chave é Cabeleira Negra - que ele não sabe dizer, porque só sai "Cabeleila Negla" - é mesmo um sarro.

Horton e o Mundo dos Quem
É um dos preferidos da Sasá - mas, fica entre nós... é um dos meus preferidos também (Dr. Seuss rules). Porque é simplesmente hilário em forma, dublagem, texto e música. Horton é um elefante que, de posse de uma flor que aloja um grão, nota que existe gente morando ali. Ele não vê os Quem, porque eles são diminutos, mas ele os escuta. Só ele escuta, e todos duvidam da sanidade do Horton, que defende o grão a todo custo. E como diz o próprio paquiderme, "uma pessoa é uma pessoa, não importa o tamanho". Tem coisa melhor de se ensinar nos dias de hoje? Principalmente para gente com pouco tamanho?

terça-feira, 4 de maio de 2010

Farinha da boa

Hoje eu abro meus olhos ao ouvir um cochichado "Mãe... Mãe, bom dia, Mãe". É aquela carinha branquela com dois faroletes azuis me olhando fixo, quase tocando nariz com nariz.

- Bom dia, Sá.
- Mãe, vem logo, eu e o Papai fizemos uma vitamina de princesa pra você e pra mim de café da manhã!
- Mesmo, filha? Que delícia. O que tem na vitamina?
- Tem maçã, tem banana, açúcar, leite e... e... (aos berros) Paaai! O que é mesmo aquela coisa de Via Láctea que a gente colocou na vitamina?

Como não acordar feliz e bem-disposta com uma vitamina feita com "farinha da Via Láctea"? Vantagens de ser princesa!